Você tem medo do quê? De aranha? Cobra? De altura, andar de avião? A sua resposta provavelmente teve alguma ligação com o risco de morte. Esse medo instintivo é natural dos seres vivos e, mesmo para nós, que somos racionais, é algo difícil de controlar.
Sim, a picada de algumas cobras pode levar uma pessoa à morte, mas são pouquíssimas espécies no mundo com esse potencial. Mais raro ainda são aranhas com um veneno tão poderoso assim. E você sabia que é mais fácil sofrer um acidente no elevador do que numa aeronave?
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Pois é, todas as respostas acima ajudariam a diminuir o medo das pessoas, mas, mesmo sabendo disso, elas continuam sentindo pavor das mesmas coisas.
Neurocientistas do Sainsbury Wellcome Center (SWC), da Universidade College London, se debruçaram sobre o assunto e tentaram entender como esse sentimento atua no cérebro. O resultado foi tão bem-sucedido que eles não só descobriram os mecanismos cerebrais por trás desse fenômeno, mas também entenderam como superar o instinto.

Um experimento com ratos
- Os cientistas fizeram os testes em cerca de 100 camundongos.
- Os ratinhos ficavam em um espaço com um abrigo disponível.
- Ao saírem para explorar o local, eram expostos a uma sombra de um predador (um pássaro), que ia aumentando de tamanho.
- A resposta natural de todos eles foi procurar o abrigo imediatamente.
- Depois de 50 vezes aproximadamente, porém, os animais perceberam que aquela sombra não oferecia perigo e pararam de se esconder.
- Os pesquisadores perceberam que os ratos ainda sentiam a presença da sombra, mas aprenderam a conviver com ela.
- Ou seja, controlaram o instinto.
- Ao acompanhar a evolução dos camundongos, o estudo identificou onde o cérebro armazena memórias para ignorar medos instintivos: o núcleo geniculado ventrolateral (vLGN).
- Trata-se de uma área previamente pouco explorada.
- Antes, os cientistas achavam que tudo ficava restrito ao córtex visual.
- Com a descoberta sobre a função nessa nova área, eles acreditam que podem suprimir os medos.
- Você pode ler a íntegra dessa pesquisa na revista científica Science.

Um novo tipo de terapia
O próximo passo da equipe é estudar estes circuitos cerebrais em humanos. Não há prazo, no entanto, para isso acontecer.
De acordo com a autora principal do artigo, a neurocientista Sara Mederos, o estudo pode levar a um avanço nos tratamentos de transtornos relacionados ao medo, por exemplo fobias, ansiedade e o TEPT – transtorno de estresse pós-traumático.
A ideia seria acessar essa parte do cérebro e mostrar pra ela que o medo, por vezes, não tem justificativa. E isso pode acontecer por meio de medicamentos, estimulação profunda do sistema nervoso ou ultrassons funcionais. Ainda são necessários mais estudos para chegar a uma terapia definitiva.
A doutora Mederos explica que esse tipo de procedimento não é completamente incomum para o nosso corpo. Ela deu como exemplo a relação de uma criança com fogos de artifício:
“Os humanos nascem com reações instintivas de medo, como respostas a ruídos altos ou objetos que se aproximam rapidamente. No entanto, podemos substituir essas respostas instintivas por meio da experiência – como as crianças aprendendo a gostar de fogos de artifício em vez de temer seus estrondos”, disse a especialista.
As informações são do Science Daily.
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