O uso crescente de medicamentos para perda de peso, como Wegovy/Ozempic e Mounjaro (as chamadas canetas emagrecedoras), tem levantado preocupações que vão além do abastecimento.
Esses fármacos, conhecidos como agonistas do receptor GLP-1, são associados a efeitos colaterais gastrointestinais comuns, como náusea, vômito e constipação, além do chamado “Ozempic face” — uma aparência abatida e envelhecida decorrente de perda rápida de peso.
Preocupações mais graves incluem possíveis relações com doenças oculares, redução da libido e risco aumentado de certos tipos de câncer. Entre eles, o de tireoide é o mais citado.
Segundo Nadine Wehida, professora sênior em Genética e Biologia Molecular na Kingston University, e Ahmed Elbediwy, professor sênior em Bioquímica Clínica/Biologia do Câncer na Kingston University, em artigo publicado na The Conversation, estudos com roedores mostraram que doses elevadas de medicamentos GLP-1 causaram tumores na glândula, embora isso não tenha sido comprovado em humanos.

Além disso, uma pesquisa francesa de larga escala encontrou um possível vínculo, especialmente em pacientes que usaram o fármaco por mais de um ano. Por precaução, esses medicamentos não são recomendados para pessoas com histórico pessoal ou familiar de câncer de tireoide, ou condições genéticas que aumentem esse risco.
Também houve suspeitas de relação com câncer de pâncreas, motivadas por relatos iniciais de pancreatite — inflamação potencialmente fatal. Estudos atuais, contudo, não confirmaram um vínculo direto, segundo os autores.
Canetas emagrecedoras levantam debate: elas podem causar câncer?
- O Wegovy e o Ozempic, cujo princípio ativo é a semaglutida, foram desenvolvidos originalmente para tratar diabetes tipo 2. Eles reduzem o apetite atuando em receptores no cérebro, além de influenciar células do intestino e tecido adiposo;
- O Mounjaro, por sua vez, tem como princípio ativo a tirzepatida, que age também em outro receptor, o GIP, aumentando ainda mais a produção de insulina e melhorando a sensibilidade à hormona. Isso proporciona maior perda de peso que a semaglutida isoladamente;
- Embora não haja, até o momento, associação confirmada entre a tirzepatida e risco elevado de câncer, ela também carrega o alerta para tumores de tireoide com base em estudos em animais;
- Curiosamente, estudos preliminares em animais sugerem que a tirzepatida pode reduzir certos tumores, incluindo o de mama, mas as evidências ainda são iniciais e não aplicáveis a humanos.
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O que dizem as farmacêuticas dos medicamentos
O Olhar Digital procurou as assessorias de imprensa de Novo Nordisk (fabricante de Wegovy e Ozempic) e Eli Lilly (fabricante do Mounjaro) e aguarda resposta.

Obesidade já é um fator de risco conhecido
Por outro lado, a obesidade é um fator de risco conhecido para vários cânceres, como os de mama, cólon, fígado e útero. Medicamentos GLP-1, ao promoverem perda de peso significativa e melhora metabólica, podem reduzir, indiretamente, essas chances.
Os autores apontam que estudos populacionais apontaram taxas menores de cânceres relacionados à obesidade entre usuários desses medicamentos em comparação a outras terapias, embora ainda não esteja claro se o efeito vem da ação do fármaco ou da perda de peso.
O quadro atual é considerado “tranquilizador, mas com ressalvas“. O risco geral de câncer associado aos GLP-1 e à tirzepatida parece baixo, dizem os autores. Ainda assim, não são recomendados para pessoas com determinadas condições endócrinas ou histórico de tumores relacionados a hormônios.
A dupla de professores conclui o artigo reiterando que as injeções para emagrecimento não são isentas de risco, mas “oferecem potencial significativo”. “Resta saber se são uma solução duradoura ou apenas mais um capítulo na longa história das tentativas de perder peso”, finalizou.

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